GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
A gravidez na adolescência de algumas décadas, até
os dias atuais, ainda é considerada por muitos profissionais e gestores da
saúde e da educação, pelas famílias e organizações governamentais e não
governamentais como um fato de precocidade no ciclo de vida e, principalmente
de caráter indesejado (FRANCISCO NETO, 2007).
Dados demográficos mundiais indicam a existência de
um bilhão de adolescentes em todo o mundo, com aproximadamente 541 milhões de
mulheres, das quais 200 milhões entre 15 e 19 anos. Os padrões de atividade
sexual e de gravidez variam segundo a tradição e a cultura, e a proporção de
partos entre mulheres de 10 a
19 anos de idade varia conforme o país considerado. Mas, as estatísticas
revelam que a gravidez precoce está aumentando em todas as partes, surgindo em
alguns países como um grave problema e em outros já alcançando cifras
decididamente alarmantes (NEME, 2000).
A gravidez na adolescência é a primeira causa de
internação (66%) em moças com idade entre 10 e 19 anos na rede do SUS.
Aproximadamente um quarto do total de partos são em adolescentes de 10 a 19 anos
(FREITAS, 2002).
Contudo a gravidez na adolescência não é um fenômeno
recente. Historicamente, as mulheres vem tendo filhos nessa etapa, e mesmo em
um contexto de intensa redução da fecundidade, não se constatou no Brasil um
deslocamento correspondente da reprodução por faixas etárias mais velhas. A
maioria das mulheres brasileiras vem tendo, em médias dois filhos e parte
significativa delas tem encerrado precocemente suas carreiras reprodutivas por
meio de uma laqueadura tubária. Nesse contexto demográfico a gravidez na
adolescência passa a ter grande visibilidade social. A abordagem do tema
gravidez na adolescência tem enfatizado o caráter de problema social do
fenômeno, partindo do pressuposto de que nas adolescentes existiria
“incapacidade fisiológica para gestar e incapacidade psicológica para criar”. A
gestação é encarada necessariamente como indesejável, com conseqüência
biológica, psicológica e sociais negativas (AQUINO, 2003).
No que se diz relacionado à mudanças biológicas
envolvem desde a idade do advento da menarca até o aumento do número de
adolescentes na população geral. Sabe-se que as adolescentes engravidam mais e
mais a cada dia e em idades cada vez mais precoces. Sendo a menarca em última
análise, a resposta orgânica que reflete a interação dos vários segmentos do
eixo neuroendócrino feminino, quanto mais precocemente ocorrer, mais exposta
estará a adolescente à gestação. E nas classes econômicas mais desfavorecidas
onde há maior abandono e promiscuidade, maior desinformação, menor acesso à
contracepção, está a grande incidência da gestação na adolescência (MINISTÉRIO
da SAÚDE, 2003).
A família tem um papel crucial como responsável pela
construção dos projetos de vida dos adolescentes, assim como dos seus valores e
crenças, que se dá na medida em que ela é o palco onde se vive e aprende as
primeiras cenas, buscando o equilíbrio entre o real e o imaginário. O contexto
familiar é fundamental na definição das experiências de crescimento,
desenvolvimento e construção da identidade do adolescente e deve ser visualizado
como processo dinâmico em que histórias de vida e projetos individuais
interagem e se conformam num complexo de relações plurais e não excludentes, de
afetos, de poder e resistência, de conflitos e dominação, de cooperação e
harmonia (RAMOS, 2001).
A vida adolescente e as necessidades em saúde
relacionadas, são processos produzidos no âmbito das sociedades, definindo-se e
modificando-se na interação com seus diversos componentes: econômicos,
institucionais, político-ético, culturais, físicos-ambientais (RAMOS, 2001).
A adolescente que vive em um meio social desprovido
de recursos materiais, financeiros e emocionais satisfatórios, pode ver na
gravidez a sua única expectativa de futuro, e com isto, acaba vulnerabilizada
(FRANCISCO NETO, 2007).
A identificação com a postura da religião adotada se
relaciona com o comportamento sexual. Alguns trabalhos mostram que a religião
tem participação importante como preditora de atitudes sexuais. Adolescentes
que tem atividades religiosa apresentam um sistema de valores que os encorajam
a desenvolverem comportamento sexual responsável. No nosso meio, nos últimos
anos as novas religiões tem florescido e são de modo geral, bastante rígidas no
que diz à prática sexual pré-marital (GUIMARÃES, 2001).
A pouca ou nenhuma escolaridade influencia na não
aquisição de práticas preventivas. A adolescente que não estuda ou abandonou os
estudos fica mais vulnerável a uma gravidez. O abandono escolar côa um fator de
risco individual importante para a gravidez na adolescência. Parece existir
unanimidade na relação entre a baixa escolaridade e gravidez na adolescência
(FRANCISCO NETO, 2007).
BIBLIOGRAFIA
AQUINO, E.M.L.; HEILBORN,
M.L.; KNAUTH, D.; BOZON, M.; ALMEIDA, M.C.; ARAÚJO, J.; MENEZES, G. Adolescência
e reprodução no Brasil: a heterogeneidade dos perfis sociais. Caderno de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, supl.2, p.377-388, jan.2003.
GUIMARÃES, E.B. Gravidez na adolescencia: fatores
de riscos. São Paulo: ed. Atheneu, 2001.
NEME, B. Aspectos Médicos Sociais –
Gravidez na adolescência. In ____ Obstetrícia
Básica. 2º ed. São Paulo: Savier, 2000, cap. 135, p. 1196 – 1201.
RAMOS, F.R.S. Bases para uma re-significação do
trabalho de enfermagem junto ao adolescente. In: ___ Ministério da Saúde.
Adolescer: Compreender, atuar, acolher: Projeto Acolher/ Associação
Brasileira de Enfermagem, Brasília: ABEn, p. 11-18, 2001.
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